
O objetivo do grupo de Harkany era descobrir se o cérebro em desenvolvimento, ainda no útero da mãe, já possuía um sistema de compostos chamados “endocanabinóides”, batizados a partir do nome científico da maconha, Cannabis sativa. Como o próprio nome diz, esses compostos funcionam como uma “maconha natural” do cérebro. Em adultos, esses sistema regula coisas como o sono e a alimentação. Mas ninguém sabia se ele existia, e o que fazia, no cérebro de crianças ainda no ventre da mãe.
O estudo feito em culturas de células e em camundongos mostra que o sistema está sim presente e tem uma função para lá de importante: é ele que “ensina” os neurônios em formação como fazerem as conexões entre si -– algo essencial para que a criança consiga realizar coisas básicas como pensar, falar, formar memórias, se movimentar e se emocionar. Todo esse processo ocorre em relativamente pouco tempo e, portanto, é bastante sensível.

Receptores de endocanabinóides (em verde) são vistos em um neurônio.
Quando a futura mãe consome qualquer derivado de Cannabis sativa ela desregula esse delicado sistema e altera o seu funcionamento correto.
“Nossos resultados são compatíveis com outros estudos feitos com filhos de mulheres que consumiram maconha durante a gravidez. Crianças acompanhadas até os 16 anos apresentaram diversos problemas, como déficit de atenção, de aprendizado e dificuldade para se relacionar socialmente”, afirma Harkany.
Segundo o cientista, que contou com o apoio de outros pesquisadores europeus e norte-americanos, o trabalho traz dois resultados importantes. O primeiro é o entendimento mais completo das ações da maconha no cérebro. “Por enquanto temos uma compreensão limitada das conseqüências da Cannabis e entender como ela afeta um cérebro em desenvolvimento pode ajudar bastante a compreender como ela age em um cérebro adulto”, diz ele. O segundo é a demonstração de um mecanismo fundamental da formação do cérebro ainda no útero da mãe.
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